segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Interior

É engraçada essa rapidez com que as coisas mudam dentro de mim. Eu fico sempre me analisando e vendo se eu faço as coisas corretas, mas no fundo eu procuro fazer somente aquilo que me acrescenta. Eu sempre tento deixar minha cara a mostra, pra quem quiser ver minhas verdades e meus fracassos, e quando forem me julgar, julguem por uma coisa que eu realmente sou e aparento ser. Não me importo de cair porque aprendi a levantar, e tenho aprendido a cada dia a ter força pra continuar de pé em meio as tempestades.

A minha máscara não tem um fundo falso. Ela é verdadeira e eu só a coloco pro meu rosto ter um brilho especial, um brilho de quem só veio pra se divertir. Todos os dias olho no espelho da minha alma e tento enxergar algo de bom em mim, algo que me faça ou fez especial pra alguém e - sinceramente - eu sempre encontro. E embora meu coração fique ferido algumas vezes, as batalhas que eu enfrento tem me feito conseguir conserta-lo a cada dor. Eu não me apego as lembranças, mas guardo-as num baú bem escuro e fechado, e revivo cada uma delas quando tenho vontade ou quanto tenho saudade.


Encontro em mim mesma a minha paz. Abraço tudo aquilo que me faz perder os sentidos ou me faz sentir pulsar o coração. Não preciso de nenhum modelo ou de alguém pra fazer média. Busco o melhor de mim e busco me superar em cada gesto, em cada palavra e toda a vez que arranco um sorriso de alguém me sinto mais viva e sinto transbordar a verdade que há dentro de mim.

sábado, 26 de novembro de 2011

Caio Fernando Abreu

(...)Pois uma história jamais fica suspensa: ela se consuma no que se interrompe, ela é cheia de pontos finais internos, o que a gente imagina que poderia ser talvez uma continuação às vezes não passa de um novo capítulo, eventualmente conservando as mesmas personagens do anterior, mas seguindo uma ordem cujas regras nos são ilusoriamente às vezes familiares? ou inteiramente aleatórias? Isso eu não sei, mas a verdade é que chega-se sempre longe demais quando não se quer Ir Direto Aos Fatos, e o problema de Ir Direto Aos Fatos é que não há cir-cun-ló-quios então, e a maioria das vezes a graça reside justamente nesses Vazios Volteios Virtuosos, digamos assim: que não haja beleza nos fatos desde que se vá direto a eles? ou que não exista mistério, que seja insuportavelmente dispensável gostar dos tais circunlóquios(...)

Enquanto o sono não vem


Noite passada eu fiquei deitada na cama, ouvindo músicas melancólicas, como sempre fazendo um balanço dos meus sentimentos, pensando em todas as coisas que vem acontecendo, até nas que não vem acontececendo e me dei conta de que muita coisa já não faz mais sentido pra mim. Eu permaneci de pé esse tempo todo olhando por cima das lentes o comportamento das pessoas e em algumas em especial consegui enxergar a realidade estampada na cara, com tinta fluorescente e piscando como luzes de natal.

Eu tenho implicado com tudo ultimamente, confesso que nada está me agradando e que tenho preferido ficar sozinha, mas no fundo existe um motivo pra isso: as coisas não se encaixam mais. É como um quebra-cabeça que eu tenho há muito tempo. As peças tinham o tamanho perfeito e quando eu o montava, ele ficava impecável, com as peças completando umas as outras. É fato que ele sempre foi meu passatempo preferido, mas venho percebendo que suas partes estão diferentes, e que não vale mais a pena ficar forçando pra que se encaixem.

E enquanto abraçava o travesseiro, todas as lembranças vieram a tona. Tanta coisa mudou tão depressa, sem tempo de dizer adeus e de dizer o quão importante elas eram ou são, talvez. Como um furacão, o destino passou e arrasou tudo sem piedade, deixando essa bagunça no meu coração, deixando esse buraco que antes era ocupado pelo amor e pela amizade, mas que agora dá lugar a saudade e a mágoa.

Porém, não culpo o destino por ter causado toda essa confusão. Acho que chegou a hora de aprender a lidar com essas circunstâncias, esquecer tudo o que foi dito e vivido e abrir espaço pra novas coisas, novas pessoas, novas recordações. Sou mesmo muito apegada e tudo e odeio quando ocorrem inconstâncias como essas, mas percorrendo esse caminho sei que ganharei mais força, e aprenderei a ficar de pé sem cair com tanta facilidade. Sei que vou aprender a construir as minhas conquistas num lugar seguro, onde decepção nenhuma possa me alcançar ou me fazer chorar. Tento ser otimista, enxergar de maneira diferente essas despedidas, essa angústia. Espero conseguir tirar algo de bom de tudo isso, e no futuro ser melhor e mais forte pra suportar essa maré de incerteza. Continuo pensando e procurando uma solução, enquanto o sono não vem.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Confie sempre

Não percas a tua fé entre as sombras do mundo. Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para a frente, erguendo-a por luz celeste, acima de ti mesmo. Crê e trabalha. Esforça-te no bem e espera com paciência. Tudo passa e tudo se renova na terra, mas o que vem do céu permanecerá. De todos os infelizes os mais desditosos são os que perderam a confiança em Deus e em si mesmo, porque o maior infortúnio é sofrer a privação Da fé e prosseguir vivendo. Eleva, pois, o teu olhar e caminha. Luta e serve. Aprende e adianta-te. Brilha a alvorada além da noite. Hoje, é possível que a tempestade te amarfanhe o coração e te atormente o ideal, aguilhoando-te com a aflição ou ameaçando-te com a morte. Não te esqueças, porém, de que amanhã será outro dia.

[Chico Xavier]

O sonho de uma flauta

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza."

[Caio Fernando Abreu]

domingo, 20 de novembro de 2011

O que o coração não diz


Doeu. Cada despedida, cada beijo e cada último abraço doeram. Te olhar pela janela e ver seus passos se distanciando de mim doeu demais. E ainda dói. Inexplicavelmente, não aprendo a superar essa dor que vem se alojar no meu coração e não vai embora, nunca vai embora. Só dá uma trégua quando você aparece pra me fazer sorrir. Acho que a dor se distrai um pouco. Mas é só você virar as costas que ela vem de novo, mais forte do que antes. Cada vez mais forte, e cada vez machucando mais. Todos os dias tento achar em meio ao meu choro silencioso palavras pra te dizer, pra talvez amenizar esse sentimento. Mas tudo parece ser em vão, já que a minha ferida só aumenta com sua ausência, e o único remédio é te ter comigo. Mesmo quando pareço estar feliz, lá no fundo a dorzinha incomoda demais e me faz querer, de uma maneira impossível, te abraçar e nunca mais te deixar ir embora. Olho nossa foto e sinto vontade de voltar no tempo, escuto qualquer música e me sinto falando diretamente contigo. Quando fecho os olhos sinto sua presença e busco uma maneira de reviver você, nós. A saudade é muito grande e quando penso não haver mais espaço no meu coração, ela sempre acha um cantinho pra morar. E mora há muito tempo. Talvez a saída mais sensata é olhar esse espaço em branco e escrever, sabendo que você vai ler, mas ao mesmo tempo sabendo que essas palavras não conseguem expressar nem metade do que sinto. Sabendo que o que eu digo pode tocar seu coração, mas nunca vai dizer exatamente o que o meu fala. E sofre. E espera um dia estar do seu lado pra sempre.

sábado, 12 de novembro de 2011

"Não deixe portas entreabertas. Escancare-as ou bata-as de vez. Pelos vãos, brechas e fendas passam apenas semiventos, meias verdades e muita insensatez."


"Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço."

[Caio F. Abreu]

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Perdoando Deus

"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."

[Clarice Lispector]

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Para todas as coisas

Para seduzir, olhar
Para divertir, bobagem
Para o carro, devagar
Mas para enfrentar, coragem

Para acreditar, mentira
Para discutir, opinião
Para levantar, sol
Mas para dormir, colchão

Para entender, conflito
Para se ganhar, amigo
Para deletar, mensagem
Para o verão, viagem

Para fofocar, revista
Para distrair, TV
Para uma dieta, açúcar
E para amar, você

Para encontrar, vontade
Para atravessar, a ponte
Para desejar, sorte
E para ouvir, Marisa

Para Capitu, Machado
Para uma mulher, Clarice
Para Guimarães, Brasil
Na terceira margem do rio

Para o secador, molhado
Para o colar, anel
Para o batom, um beijo
Sempre muito apaixonado

Para se pintar, espelho
Para se perder, aposta
Para dividir, segredo
Para namorar, se gosta

Para um biscoito, avó
Para comprar, essencial
Para todas as coisas, nó
E para terminar, final

[Ana Cañas]

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Amor, incerteza e coragem


Chegou uma hora em que abri meus olhos e vi que nada mais estava como antes. Deus! Foram tantas mudanças. Tanta coisa ficou pra trás e acho que você nem se lembra mais. Na verdade, nem eu estou me lembrando mais, pois estou tendo que acostumar com essas mudanças e de alguma forma tenho recordado cada vez menos de como as coisas eram, de como você era, de como nós eramos. Sempre foi e continua sendo cada vez mais difícil superar todos os obstáculos que estão entre nós. Com tudo o que vem acontecendo, nossos medos e inseguranças vêm a tona sem o mínimo pudor e escancarados pra quem quiser ver. As palavras se confundem dentro da cabeça e qualquer coisa dita se torna um motivo pra doer mais, pra fazer nosso sentimento vir a prova. Meu amor ainda é o mesmo, claro, com muitas cicatrizes e mágoas, mas ainda é o mesmo. E honestamente espero que o seu seja também. A saudade ainda atormenta lentamente fazendo sentir o vazio de não ter um abraço, um carinho e um consolo quando me sinto sozinha ou quando quero. Ouvir a sua voz ainda alivia mas não cura. Nada nunca cura, a não ser sua presença de corpo e de alma junto a mim. Não me peça pra responder a razão disso, pois meu coração está perturbado com a possibilidade de tudo isso acabar um dia. Não sei se existe "eu" sem "você". Não sei se meu sorriso vai permanecer, se eu serei a mesma ou se eu serei alguém. Não sei se as coisas vão ter o mesmo sentido ou a mesma magia. Na verdade eu sei pouca coisa. Meus olhos aflitos tentam procurar uma solução pra tudo a todo momento. Todas as promessas se tornaram uma incógnita, algo que pode ser levado com o simples sopro do vento. Fico apenas sozinha pensando e rezando pra que tudo volte a ser como antes e pra que nosso sentimento não mude nem um centímetro, nem por um segundo. Não queria parecer frágil e nem fraca, mas acho que agora estou. Quero realmente continuar caminhando do seu lado e encontrar depressa a uma solução e um ponto final pra isso. Eu acredito num final feliz, numa história onde mesmo com a dor seja possível tirar algo de bom. Sei que juntos vamos lutar até o fim, e a única certeza que tenho agora é de que estou disposta a fazer o que for preciso pra salvar o que ironicamente não perdemos ainda: nosso amor.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

É melhor você ir pegar sua armadura


Ela fazia isso todas as vezes. E de novo apareceu machucada pela indiferença que recebia constantemente daqueles que estavam ao seu redor. Tudo tinha realmente perdido o sentido e a única coisa que importava era conseguir sair respirando daquela batalha. Haviam sido atiradas tantas granadas em cima dela que uma vez ou outra ela chegava a pensar em desistir. Desistir de tudo, perder de vez a fé nas pessoas. Perder a fé em tudo aquilo que um dia ela já havia acreditado. Seu corpo já exausto de tantas decepções tentava achar um único motivo pra permanecer de pé e caminhando, pois toda sua esperança já havia sido usurpada. Ela não queria crer que tudo aquilo estava acontecendo. O que um dia tinha sido sua fortaleza, hoje ficava cada vez mais esquecido com o passar dos dias. Custava a aceitar lutar contra seus próprios amores, seus próprios amigos. Custava ainda mais a aceitar lutar consigo mesma, pois deveria depois da batalha tomar uma nova postura, e aprender a amar somente aquilo que a fazia bem. Ficava confusa entre as lágrimas e leves risos que surgiam uma vez ou outra para faze-la esquecer de toda aquela mágoa. Já havia lutado em muitas guerras, mas nenhuma tinha sido tão duradoura e torturante quanto a última que sobreviveu. Sobreviveu. Apesar as muitas cicatrizes que carregava consigo, ela sobreviveu. E está aqui pra quem quiser ver. Está em pé, está forte e sorrindo, mesmo que as vezes seja pra disfarçar a lágrima que insiste em amargar seus lábios.

Reticências


Houve um tempo em que eu acreditava em tudo e em todos. Um tempo em que o riso das pessoas era verdadeiro, e saía facilmente. Os bons momentos e os amigos não eram esquecidos tão depressa, e o amor não acabava com o passar dos anos, e nem acabava com a distância, afinal, alguém disse que a distância não é empecilho pra amar, e houve um tempo em que realmente não era. Naquele tempo tudo era mais simples, tudo era real e incabável, e eu acreditava que ninguém jamais me abandonaria. Eu acreditava em todos os abraços e nas palavras que vinham leves e carregadas de ternura. Eu conseguia facilmente olhar pra dentro das pessoas e saber o que elas sentiam, o que queriam dizer, sem segredos, sem mistérios. Houve um tempo em que eu pude confiar de olhos fechados e de mãos atadas, uma época em que ninguém me dava as costas e não usavam as minhas palavras contra mim. As coisas eram tão mais diferentes. Não existia esse sentimento vulnerável que se dilui por qualquer coisa. Não existia a palavra saudade, porque não dava tempo de senti-la - a matavamos antes que ela pensasse em aparecer. Houve um tempo em que o amor nunca acabava, quanto mais se dava, mais se tinha, e uma vez que o "te amo" fosse dito, ele ecoaria por toda a eternidade. Houve um tempo em que os momentos especiais eram preciosos, e eram guardados antes de tudo na memória de cada um pra que jamais escapassem ou sumissem por aí. Eu esperava todos os dias que os meus amigos viessem dizer que se importavam e lembravam de mim, e que eu tinha algum valor pra eles. Eu preservava cada segundo junto das pessoas que eu amava, não deixava nada nem ninguém me fazer mudar e principalmente me fazer esquecer do que era importante pra mim. Houve um tempo em que cada detalhe importava e jamais os dias, meses e anos apagavam o que realmente tinha vindo pra ficar. Eu poderia chorar e sofrer que sempre alguém viria me consolar e me dizer que estava tudo bem, que tudo ia passar. Alguém sempre estaria de braços abertos pra me acolher, pra me ouvir ou pra me dizer alguma coisa que me fizesse rir. Tudo era tão diferente. Eu colocava a minha mão no fogo por certas pessoas, eu dava minha cara a tapa, eu corria riscos. Hoje nada me resta, apenas o choro silencioso que chega de repente e demora pra ir embora. Só restaram as cinzas e as fotografias de tudo o que eu vivi e agora não passa de uma distante lembrança. Só restaram as reticências que estão prolongando-se nas páginas sujas e velhas desse livro incabado.