quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Nada mudou

Seus cabelos eram da mesma cor. Mais compridos, naturalmente, mas o tom permanecera igual. As mãos que eram pequenas, agora cresceram, ainda que continuem com a mesma delicadeza. Os olhos profundos, persistiam intensos e brilhantes, deixando estático quem os olhava. O sorriso? Ah, esse era infinitamente encantador e certamente passaria a conquistar muitos outros sorrisos por onde passasse.
Seu coração, embora já tivesse passado por poucas e boas, batia no mesmo ritmo e possuia a mesma fragilidade de sempre, afinal, era um coração de mulher. Quem fora capaz de conquistar esse coração algum dia? Ninguém fora do comum. Bastava uma palavra doce e um abraço aconchegante, e lá estava ela, sonhando de novo com seu príncipe encantado e desenhando corações numa folha de papel qualquer. Príncipe encantado? Pensando bem, isso é uma coisa que já estava fora do seu conceito, mesmo com as renúncias de um amor gritante, ela tentava deixar esse personagem apenas nos livros, o que não funcionava muitas vezes.
A paixão pelo céu e as estrelas continuava a mesma.. e as horas ocupadas observando ambos era algo de que ela nunca abriria mão. A insegurança, as lágrimas desmotivadas e o aperto no peito quando rejeitada, da mesma forma a deixava com muito receio. Se sentia sozinha algumas vezes, mesmo que rodeada de gente..mas isso é algo inalterável, pois possuia seus momentos de aborrecimento. Permitia-se chorar sempre que preciso, mesmo que fosse um pranto sem razão.
Guardava dentro de si dúvidas e segredos indecifráveis. E queria possui-los sempre consigo, pois confiava nela mesma acima de tudo.
Com o longo dos anos, aprendeu muita coisa. Sentar de pernas cruzadas, falar palavrão, passar batom, beijar na boca e alisar o cabelo. Não exigia que gostassem dela, mas exigia respeito, no mínimo. No interior sua essência era a mesma, mas o tempo a obrigou a mudar em alguns aspectos. Ela deixou as bonecas de lado, embora algumas vezes sentisse uma vontade quase incontrolável de reviver anos passados. Escondeu um pouco sua timidez, ainda que essa danada surgisse nos momentos mais inesperados. Adquiriu mais coragem para afrontar e atrever-se nesse mundo incerto, apesar de cair muitas vezes no chão, e permanecer muito tempo caída, aprendera a levantar com mais força.
Mudou. Mudou muito. Talvez se não fossem suas marcas de nascença e seu riso fácil, ela nem se reconhecesse mais. E essas mudanças não são difíceis de se perceber. São fáceis, e se desvendam com muita espontaneidade. É uma metamorfose que possui altos e baixos, e só tende a melhorar. Uma modificação ingénua, mas intensa. Mas ela sabe e todos sabem, que bem lá no fundo, nada mudou..

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